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Foto do escritorPaula Pompeu Fiuza Lima

Por que resolvi fundar a É Circular e como ela foi criada?

Atualizado: 26 de jul. de 2021

Há uns dois anos comecei a me perguntar como tornar mais coerentes meus investimentos com os meus valores. Incomodada com as práticas de algumas empresas e querendo fugir da lógica da especulação financeira, comecei a perguntar para colegas como fazer isso, e ninguém sabia responder muito bem.


A partir dessa inquietação, ficava pensando que deveriam existir alternativas para fazer poupança do que deixar meu dinheiro em investimentos tradicionais. Via tantas iniciativas não irem para frente por falta de crédito e pensava: por que falta crédito? Eu posso emprestar! E aposto que um monte de gente junto emprestando dinheiro poderia fornecer o crédito que essa iniciativa precisa.


Comecei a pensar que deveria existir um fundo que só investisse em iniciativas justas. Era tão óbvio que alguém já deveria ter tido essa ideia antes! Mas perguntando para a gerente do banco, nada parecia ter esse perfil, o máximo que eu encontrava eram fundos que investiam nas empresas reconhecidas como mais sustentáveis listadas na Bolsa de Valores.


Até que um dia uma colega me mostrou o termo “Investimentos de Impacto”. Era por isso que eu tinha que procurar! Saí procurando, e entre iniciativas de filantropia e fundos para milionários, achei a plataforma de empréstimo coletivo da Sitawi. Mas a rodada de investimentos estava fechada... Nesse meio do caminho, foi lançada a iniciativa do Finapop, de investimento em cooperativas do Movimento do Sem Terra. Achei maravilhoso, mas novamente, não estava disponível...


Comecei a mandar e-mail para pessoas conhecidas que poderiam ter contato com esse tema e para e-mails institucionais das organizações de investimentos de impacto. Pouquíssimas respostas. Mas as que recebia confirmaram que a viabilização de investimentos de impacto para pessoas comuns era ainda um desafio.


Um dia, li uma matéria da Eliane Brum no jornal El Pais que falava para mandar um vídeo com uma proposta para Libertar o Futuro, que no contexto de crise climática e tantas violações de direitos encontrava-se aprisionado. Foi o que eu fiz, criei coragem e mandei o meu vídeo dizendo que deveria ser criado um fundo para iniciativas justas e sustentáveis. Quem tiver curiosidade, esse é o meu vídeo, com toda a minha desenvoltura frente às câmeras:


No segundo semestre de 2020, os laboratórios do Liberte o Futuro começaram, e sempre que eu pude, compartilhei minhas angústias. Como estava participando de um Laboratório que focava na discussão sobre consumo, acabava que minhas preocupações não eram tanto o tema das ações. Mesmo assim, uma semente foi plantada!


Já no fim de 2021, uma daquelas tantas pessoas que eu tinha entrado em contato me deu um retorno dizendo que conhecia algumas pessoas da Fintech Moeda Seeds. Marcamos uma conversa e propus fazer um piloto de captação para os projetos que o Moeda acompanhava. O que mais me animou foi que vi que estava conversando com pessoas com trajetória extensa na área da agricultura familiar e cooperativismo solidário. Nesse momento, já tinha certeza que meu propósito não era apenas investir, mas criar um negócio que promovesse esse tipo de investimento para pessoas com as mesmas inquietações.


Eles aceitaram a proposta e marcamos um encontro para mobilizar os possíveis investidores. Chamei amigos, conhecidos, pessoas que achei que poderiam se interessar, mas poucas pessoas foram. Basicamente, foi um encontro em que estavam eu, uns três ou quatro amigos, e um monte de gente do Moeda. Achei que seria um fiasco. Mas no dia seguinte, mandei a gravação do encontro junto com o formulário de inscrição para o grupo de investimentos para as pessoas do Liberte o Futuro e quase que instantaneamente as pessoas começaram a se inscrever.


Começamos! O começo foi confuso, falávamos demais, não sabíamos como lidar com demandas divergentes, mas fomos fazendo, um encontro atras do outro, sempre com um aprendizado novo. Teve encontro que saíamos achando que estava tudo maravilhoso, tinha outros que nem a gente conseguia processar todas as informações, imagina os integrantes do grupo! Eu só tenho a agradecer a cada participante que se dispôs a participar desse experimento!


Enquanto isso, uma das integrantes do grupo me orientou a conversar com o seu consultor financeiro. Foi o que fiz! Na primeira conversa falei o que estava pensando em fazer, e ele não demonstrou nenhum espanto. Acho que meu maior medo era descobrir que estava infringindo alguma regra do sistema financeiro. Já na segunda, pedi para que ele me supervisionasse para obter uma certificação de planejamento financeiro. Sabia que se eu quisesse adentrar esse mundo, teria que aprender muita coisa e certamente uma certificação me daria mais legitimidade para falar sobre o assunto.


Assim, me associei ao programa de experiência supervisionada da SuperRico Projetos de Vida, uma empresa com foco no bem-estar financeiro. É uma empresa liderada por pessoas com certificação em Planejamento Financeiro (CFP) e associadas à Planejar. Eles têm um programa de supervisão de novos planejadores para que eles possam também ser certificados após a realização da prova de avaliação e um ano de atendimento a clientes.


No momento em que escrevo, ainda não estou atendendo a clientes, mas a ideia é desenvolver um serviço de consultoria financeira especializado em investimentos com preocupações ambientais, sociais e de governança (ASG) e de impacto. Os responsáveis pela SuperRico já demonstraram interesse em desenvolver esse serviço, mas me desafiaram a encontrar as pessoas que estariam dispostas a pensar em carteiras de investimento que não sejam avaliadas somente pelas dimensões de risco e retorno financeiro. Acho que achar pessoas com esse interesse não será difícil, não é mesmo?


É isso que temos até agora! Muita vontade de mobilizar investidores para direcionar recursos para iniciativas que contribuem para resolver problemas socioambientais e algumas parcerias que nos ajudam a fazer isso. Estamos cientes de que isso envolve muita responsabilidade, porque não se brinca com o dinheiro das pessoas. Ele foi conseguido de forma suada, e é o que possibilita que cada um viva com conforto! Desejamos que vocês confiem no que estamos propondo, participem desse movimento que acredito que tem um grande potencial de promover a transformação social e mudar a rota da economia!



1 Comment


Muito bom conhecer mais da tua e da história da É circular! Vida longa ao projeto! Que mude muitas vidas!

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