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Foto do escritorPaula Pompeu Fiuza Lima

Negócios e investimentos de impacto e a ingenuidade de não se falar em direitos

Atualizado: 16 de out. de 2021

Desde que comecei a pesquisar sobre negócios e investimentos de impacto me deparo com a definição de que eles têm como objetivo, além de gerar lucro, contribuir para a solução de problemas socioambientais. E tenho visto atores do campo elencarem problemas como a pobreza, ou até as desigualdades sociais como desafios a serem resolvidos pelos negócios de impacto.


Quando vejo essas promessas fico me perguntando onde foi parar o Estado como promotor de políticas públicas que buscam solucionar justamente esses problemas. Não estou dizendo que os negócios e investimentos de impacto não possam contribuir, mas sem uma visão crítica sobre o papel do Estado, qualquer ação com esse objetivo se torna, no mínimo, ingênua.

No âmbito da erradicação da pobreza, a principal ação estatal desenvolvida foi o Programa Bolsa Família. Criado em 2003, a partir da unificação de programas de transferências de renda já existentes, é responsável por garantir que famílias pobres e extremamente pobres tenham um mínimo de dignidade. Contudo, desde 2013 o número de famílias incluídas no Programa Bolsa Família permanece estável[1], sendo que desde 2015, já estava sendo identificado aumento do número das famílias pobres[2].


Com a pandemia, esse descompasso entre o aumento da pobreza e a diminuição do acesso a políticas públicas se tornou gritante. As dificuldades de operacionalização do Auxílio Emergencial expuseram o grande número de pessoas que ficaram vulneráveis em função da pandemia, mas certamente teria sido menor se as políticas voltadas a população pobre estivessem acompanhando o crescimento da pobreza.


Mesmo o Auxílio Emergencial teve seu valor diminuído, justificado por um discurso de responsabilidade fiscal, passando a ser cada vez menos capaz de atender as necessidades mais básicas da população que dele precisa. Em virtude disso, atualmente, mais da metade da população encontra-se em alguma situação de insegurança alimentar[3].


Nas sociedades atuais, a única instituição capaz de universalizar acesso a serviços que garantem direitos é o Estado. Por mais escalável que seja o negócio de impacto, dificilmente um serviço ofertado por uma empresa com fins lucrativos poderá atender às pessoas sem restrições, como é dever do Estado no que se refere às políticas que garantem direitos universais.


Voltando aos negócios e investimento de impacto, um dos principais desafios desse tipo de iniciativa é identificar a causa do problema que se quer resolver. Entre as causas da pobreza, por exemplo, certamente está a falta de oportunidades para as pessoas vulneráveis. Mas é causa desse problema também a falta de garantia dos direitos mais básicos. Por isso, microcrédito produtivo, inserção de pessoas vulneráveis no mercado de trabalho, entre outras ações, podem sim contribuir para a solução desse problema. Mas elas precisam vir juntas com a reivindicação por direitos: direito à alimentação, direito aos meios mais básicos de sobrevivência para não ficar à mercê de iniciativas benevolentes que podem acabar a qualquer momento.


Sim, os negócios e investimentos de impacto são importantes. Tem o potencial de fornecer as oportunidades que o mercado tradicional não está disposto a oferecer. Podem resolver problemas que impactam o acesso a bens e serviços por diferentes públicos. Mas eles não podem se pretender substituir direitos. Sem um discurso crítico sobre as causas dos problemas sociais para os quais os negócios e investimento de impacto pretendem contribuir e sobre qual o papel do Estado e do mercado no desenvolvimento de soluções, corre-se o risco de propor ações voluntaristas e com pouca efetividade.







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